Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
A liturgia de hoje nos apresenta uma tríplice mensagem que toca diretamente a nossa vida de fé:
- Primeiro, o apelo de São Paulo a Timóteo: “Ninguém te despreze por seres jovem; ao contrário, torna-te exemplo para os fiéis” (1Tm 4,12).
- Segundo, o cântico do salmista que nos convida a proclamar: “Grandiosas são as obras do Senhor!” (Sl 110).
- Terceiro, o encontro entre Jesus e a mulher pecadora, no Evangelho de Lucas, onde o perdão e o amor se entrelaçam de forma surpreendente (Lc 7,36-50).
Essas três passagens não estão desconectadas, mas compõem um mosaico. Elas falam de vocação, de contemplação e de redenção. Elas nos mostram como Deus age em nós — chamando-nos a ser exemplo, revelando suas obras, e transformando-nos pelo amor.
São Paulo escreve a Timóteo, jovem bispo da Igreja, encorajando-o diante de sua missão. “Ninguém te despreze por seres jovem”. Aqui há duas mensagens fundamentais:
Muitas vezes, a juventude é vista como sinônimo de inexperiência, imaturidade ou fraqueza. Mas, para Deus, a juventude é tempo de ardor, de entusiasmo, de entrega generosa. Timóteo, apesar de jovem, foi chamado a liderar e a ensinar. Isso nos mostra que o Espírito Santo não olha para a idade, mas para a disponibilidade do coração.
Quantos jovens santos marcaram a história da Igreja! Santa Inês, São Tarcísio, São Domingos Sávio, Santa Teresinha do Menino Jesus — todos testemunharam que a juventude pode ser fecunda quando colocada a serviço de Cristo.
Paulo pede a Timóteo que seja modelo. A autoridade do cristão não vem da idade, nem do cargo, mas do testemunho. Um padre, um catequista, um pai ou mãe, só serão verdadeiros educadores da fé se suas palavras coincidirem com suas ações.
Paulo continua: “Ocupa-te da leitura, da exortação e do ensino”. Aqui está um chamado à formação permanente. Quem ensina precisa, antes, ser discípulo. Quem guia precisa, primeiro, ser guiado pela Palavra.
E Paulo conclui: “Cuida de ti mesmo e do teu ensino. Assim te salvarás a ti mesmo e aos que te escutam” (v. 16). O cuidado de si mesmo não é egoísmo, mas zelo espiritual. O missionário não pode ser canal seco, precisa ser fonte viva, alimentada constantemente pela oração e pela Palavra.
O salmo responsorial nos leva a um movimento de contemplação. Se Paulo chamou Timóteo ao compromisso e à vigilância, o salmo agora nos convida a levantar os olhos para a fidelidade de Deus.
O Salmo 110(111) é um hino de louvor que exalta as obras do Senhor na criação e na história da salvação. Ele afirma que tudo o que Deus faz é justo, verdadeiro e eterno.
Quando repetimos: “Grandiosas são as obras do Senhor!”, reconhecemos que nossa vida não está solta, mas sustentada pelo amor providente de Deus.
As “obras grandiosas” não são apenas os milagres do passado, mas também as pequenas graças que experimentamos hoje: o dom da vida, a família, a comunidade de fé, a perseverança nas provações, a alegria de servir. Muitas vezes não percebemos, mas cada passo da nossa história é cercado pela fidelidade divina.
O salmista não louva apenas por gratidão, mas também para fortalecer a confiança: se Deus agiu ontem, Ele continuará agindo hoje e amanhã. Louvar é antecipar a vitória da graça, mesmo quando as circunstâncias parecem contrárias.
Chegamos ao Evangelho, que é o coração desta liturgia. A cena é forte:
- Jesus está na casa de um fariseu chamado Simão.
- Uma mulher, conhecida como pecadora pública, entra, chora aos pés de Jesus, unge-os com perfume e os enxuga com os cabelos.
- O fariseu se escandaliza: “Se este homem fosse profeta, saberia quem é essa mulher”.
- Jesus, porém, conta a parábola dos dois devedores e declara: “Seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou”.
Simão representa a lógica da lei, do julgamento, da aparência. Ele convida Jesus, mas não lhe oferece a hospitalidade básica. Sua relação com Jesus é formal, exterior.
A mulher, ao contrário, não pronuncia palavra. Sua linguagem é a das lágrimas, do gesto, da entrega. Ela não tem nada a esconder, expõe sua miséria e confia.
Aqui está o primeiro ensinamento: a verdadeira hospitalidade para com Cristo é abrir-lhe o coração com humildade, e não apenas com formalidades religiosas.
Jesus não justifica o pecado da mulher, mas valoriza o seu amor. É o amor que a leva ao arrependimento, e é o arrependimento que a abre ao perdão.
“Seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou” (v. 47). Não significa que ela conquistou o perdão pelas próprias forças, mas que sua abertura ao amor a tornou capaz de recebê-lo.
Simão, por outro lado, não se percebe pecador, e por isso não experimenta o perdão. A pior cegueira espiritual é achar que não precisamos de misericórdia.
Jesus explica: dois homens deviam dinheiro, um muito, outro pouco; ambos foram perdoados. Quem amará mais? Aquele que recebeu maior perdão.
Essa parábola revela a lógica do Reino: quanto mais reconhecemos nossa miséria, mais podemos experimentar a grandeza do amor de Deus.
No final, Jesus diz à mulher: “Tua fé te salvou. Vai em paz!”. O fruto do perdão é a paz interior. Não a paz como ausência de problemas, mas como presença de Deus no coração.
Agora podemos unir os três textos proclamados:
- Paulo a Timóteo: seja exemplo na palavra, no amor, na fé e na pureza.
- O salmista: proclame as grandiosas obras do Senhor.
- O Evangelho: deixe-se transformar pelo perdão que nasce do amor.
A síntese é esta: quem deseja ser exemplo precisa, primeiro, reconhecer as obras de Deus e experimentar a força do perdão. Só assim poderá viver uma fé autêntica e comunicá-la aos outros.
Aos jovens aqui presentes, a Palavra de Deus hoje lhes diz: não tenham medo de ser exemplo! Não deixem que ninguém despreze sua idade ou sua pouca experiência. O mundo precisa da audácia e da generosidade da juventude. Sejam missionários da palavra, do amor, da fé e da pureza.
Para nós, adultos, o chamado é à coerência: cuidar da vida interior e do testemunho. Muitas vezes educamos com palavras, mas são as atitudes que realmente formam. Nossos filhos, netos e afilhados aprendem mais com o que fazemos do que com o que dizemos.
Como comunidade, somos chamados a ser casa de acolhida como foi Jesus, e não espaço de julgamento como Simão. Nossas paróquias precisam ser lugares onde os pecadores se sintam acolhidos, e não condenados. Onde as lágrimas possam se tornar perfume de fé e de conversão.
Pessoalmente, cada um de nós é convidado a se reconhecer na mulher do Evangelho. Talvez não sejamos pecadores públicos, mas todos temos feridas e misérias. Acolhamos o perdão de Cristo, e experimentaremos a paz que Ele nos dá.
Queridos irmãos e irmãs,
Hoje, a Palavra nos mostrou que:
- Deus chama até os jovens a serem exemplo.
- Suas obras são sempre grandiosas e dignas de louvor.
- Seu amor é capaz de perdoar e transformar até o maior dos pecadores.
E assim, nossa vida se tornará um hino vivo que repete com toda a Igreja:
“Grandiosas são as obras do Senhor!”
Amém.



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