Colocar Deus em Primeiro lugar | Dom Lucas Henrique Lorscheider

 


Liturgia Diária
Quinta-feira 25ª Semana do T. Comum


Amados irmãos e irmãs,

Reunidos nesta celebração, somos conduzidos pela Palavra de Deus a uma profunda reflexão sobre a fidelidade, a centralidade do Senhor em nossa vida e a forma como a fé nos interpela em nossos dias. As leituras que escutamos são muito ricas, pois nos falam de três dimensões essenciais da vida cristã:

  1. A necessidade de colocar Deus em primeiro lugar (profeta Ageu).
  2. O convite a viver na alegria da pertença ao Senhor (Salmo 149).
  3. A pergunta que sempre ressoa na história: “Quem é este homem, de quem ouço falar tais coisas?” (Herodes no Evangelho).

Estas três linhas se encontram para nos mostrar que não podemos viver uma fé superficial. O Senhor nos pede hoje que o coloquemos no centro, que nos alegremos em sua presença e que saibamos responder ao mundo que ainda questiona quem é Jesus.

O profeta Ageu nos transporta ao contexto do retorno do exílio da Babilônia. O povo, após décadas de sofrimento, havia regressado a Jerusalém. Mas o que encontram? Uma cidade arruinada, um templo destruído, um povo desanimado. Era necessário reerguer não apenas as muralhas da cidade, mas sobretudo o centro da vida espiritual: a casa de Deus.

Contudo, em vez de se preocuparem com o templo, os israelitas começaram a dedicar-se apenas às suas casas particulares, às suas preocupações materiais. O profeta então os interpela com firmeza:

“É tempo de habitardes em casas revestidas de lambris, enquanto esta casa está em ruínas?” (Ag 1,4).

Ageu denuncia o egoísmo do povo, que busca seu próprio conforto e deixa de lado o Senhor. Ele convida à conversão: subam à montanha, tragam madeira, reconstruam a casa do Senhor, para que Ele seja glorificado.

Essa palavra é muito atual. Quantas vezes nós também colocamos nossas próprias preocupações, nossos bens, nossos interesses, acima das coisas de Deus? Vivemos num mundo marcado pelo consumismo, pela busca desenfreada de segurança e bem-estar, mas esquecemos de Deus. Construímos “casas” materiais, mas deixamos o “templo interior” em ruínas.

Ageu nos convida a rever nossas prioridades. Qual é o lugar de Deus em minha vida? Tenho dedicado tempo à oração? Tenho participado da vida da comunidade? Tenho edificado o Reino com minhas ações? Ou vivo apenas para mim mesmo?

A verdadeira felicidade não está em encher bolsos e estômagos, mas em colocar Deus no centro. Quando Ele é esquecido, até nossas conquistas se tornam vazias. Ageu nos lembra que só quando reconstruímos a casa do Senhor em nosso coração é que a vida adquire sentido.

O salmista, em contrapartida, nos convida à alegria: “O Senhor ama o seu povo e dá vitória aos humildes”. Enquanto Ageu nos chama à conversão, o Salmo nos lembra da alegria que nasce de quem vive para o Senhor.

É belo ver a descrição: cânticos novos, louvores, danças, instrumentos. Tudo em harmonia para glorificar a Deus. Aqui percebemos que a verdadeira felicidade não vem das coisas passageiras, mas da experiência de sermos amados por Deus.

O salmo diz que Deus se compraz nos humildes. Isso nos toca profundamente, porque muitas vezes pensamos que precisamos de grandes feitos para agradar a Deus. Mas o Senhor se alegra com o coração simples, com aquele que, em sua pobreza, se abre ao dom divino.

Na sociedade de hoje, onde tudo é avaliado por status, poder e riqueza, o salmo nos recorda: a medida do homem não é aquilo que ele possui, mas a sua humildade diante de Deus.

Celebrar com alegria, cantar a Deus, é também testemunhar esperança. O cristão não é alguém triste, fechado, mas alguém que, mesmo em meio às dores, exulta porque sabe que pertence ao Senhor.

No Evangelho, vemos Herodes perturbado por causa de Jesus. Ele ouve falar das curas, dos milagres, da pregação, e se questiona: “Quem é esse homem de quem ouço falar tais coisas?” Uns diziam que era João Batista ressuscitado, outros que era Elias, outros ainda que um antigo profeta. Herodes fica inquieto e procura ver Jesus.

Esse trecho é curto, mas cheio de significado. Ele mostra que Jesus não passa despercebido. Sua presença, sua palavra, suas ações despertam perguntas, inquietam consciências, chamam à decisão.

Herodes, símbolo do poder mundano, vê em Jesus uma ameaça, mas também uma interrogação. Ele não consegue ficar indiferente.

E aqui surge a grande questão para nós: Quem é Jesus para mim?

Não basta repetir o que os outros dizem. Cada cristão precisa responder pessoalmente. Jesus é apenas um personagem histórico, um profeta como tantos outros? Ou Ele é verdadeiramente o Filho de Deus, o Senhor da minha vida?

Essa pergunta é decisiva. Porque se Jesus é realmente o Senhor, então minha vida deve mudar. Não posso viver de qualquer jeito. Preciso colocar Deus no centro (como disse Ageu) e viver na alegria humilde de quem pertence ao Senhor (como canta o Salmo).

Se juntarmos as leituras, vemos uma linha espiritual muito clara:

  • Ageu denuncia a indiferença: o povo coloca outras prioridades acima de Deus.
  • O Salmo proclama a alegria de viver em Deus, lembrando que Ele dá vitória aos humildes.
  • O Evangelho mostra a inquietação diante de Jesus: não é possível ignorá-lo.

Tudo converge para uma verdade central: o homem só encontra sentido quando coloca Jesus no centro de sua vida. Fora dele, tudo é vazio.

A grande questão, então, é: estamos reconstruindo o templo do Senhor em nossa vida ou estamos apenas construindo nossos próprios palácios? Estamos cantando a alegria de sermos povo de Deus ou seguimos entristecidos pelas coisas passageiras? Temos coragem de responder, diante do mundo que pergunta quem é Jesus, que Ele é o Cristo, o Filho do Deus vivo, nosso Salvador?

O profeta Ageu nos interpela diretamente hoje. A Igreja, em tantos lugares, sofre com o esfriamento da fé, com a indiferença religiosa, com a falta de participação. É como se o templo estivesse em ruínas. E o Senhor nos chama: reconstruam a casa! Isso significa reavivar a fé, voltar à oração, valorizar a Eucaristia, redescobrir a beleza da vida comunitária.

O Salmo nos lembra que Deus ama os humildes. Em tempos de redes sociais, onde todos buscam aparecer, exibir-se, projetar uma imagem, somos convidados à simplicidade. Não precisamos provar nada para o mundo; precisamos apenas ser fiéis a Deus. O humilde não se exalta, mas deixa que o Senhor seja sua força.

O Evangelho nos traz o maior desafio: dar testemunho. Em um mundo que muitas vezes rejeita ou ridiculariza a fé, precisamos responder com coragem: Jesus é o Senhor da vida! Isso não se faz apenas com palavras, mas com atitudes: vivendo o Evangelho no trabalho, na família, na sociedade. O testemunho silencioso, mas firme, fala mais do que mil discursos.

As leituras de hoje também apontam para uma dimensão escatológica: reconstruir o templo não é apenas erguer pedras, mas preparar-se para a Jerusalém celeste. O cântico de louvor do Salmo já antecipa a liturgia do céu. A pergunta de Herodes ecoa até o fim dos tempos, mas só os que reconhecem Jesus como Senhor entrarão na vida eterna.

Portanto, viver essa Palavra é também nos preparar para a eternidade. Nossa vida aqui é breve; as construções materiais passarão. O que permanecerá é a nossa fé e a resposta que demos a Cristo.

Queridos irmãos, hoje a Palavra nos chama a três atitudes:

  1. Recolocar Deus no centro – reconstruir sua casa em nossa vida e em nossa comunidade.
  2. Viver a alegria da fé – celebrar com cânticos, na humildade e simplicidade.
  3. Responder quem é Jesus para nós – não com teorias, mas com o testemunho da vida.

Que não aconteça conosco o que o profeta denunciou: casas cheias, mas corações vazios de Deus. Que possamos cantar com alegria, porque o Senhor nos ama. E que, diante da pergunta “Quem é este Jesus?”, possamos proclamar: Ele é meu Senhor, meu Salvador, meu tudo.

Assim, viveremos de forma coerente, profundamente enraizados na fé, testemunhando no mundo atual que somente em Cristo encontramos vida, sentido e esperança.

Amém.

 LUCAS HENRIQUE LORSCHEIDER

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