Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
A liturgia de hoje nos convida a celebrar com fé e gratidão a memória dos Santos Anjos da Guarda. O que celebramos não é uma devoção secundária ou meramente piedosa, mas uma verdade profunda da nossa fé: Deus, que é Senhor do universo, em sua bondade e providência, confia a cada ser humano um anjo que o acompanha, protege e guia no caminho da salvação.
O Salmo 90(91), tão amado pelos cristãos, ecoa a mesma confiança: “Porque a seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos.” É uma oração de fé na providência divina que se faz próxima através dos anjos.
Portanto, nesta homilia, meditaremos sobre três eixos fundamentais:
- O cuidado de Deus que nos acompanha por meio dos anjos.
- A atitude de humildade e confiança que devemos cultivar.
- O compromisso de viver hoje à luz dessa presença protetora, cooperando com a graça de Deus.
A primeira leitura, do livro do Êxodo, nos coloca na cena do povo de Israel peregrinando pelo deserto. Estavam libertos da escravidão, mas ainda não haviam chegado à terra prometida. O caminho era longo, cheio de perigos, incertezas, tentações. É nesse contexto que Deus lhes dá a promessa: “Vou enviar um anjo à tua frente…”.
A tradição cristã vê nos anjos da guarda a atualização desta promessa: Deus continua a enviar mensageiros de luz para guardar e orientar cada filho seu. O Catecismo da Igreja Católica (§336) ensina:
“Desde o seu começo até à morte, a vida humana é cercada pela sua proteção e pela sua intercessão. ‘Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida’ (São Basílio Magno).”
O ensinamento é claro: não somos abandonados na caminhada. Deus, que é infinita majestade, inclina-se a cada pessoa com ternura, confiando-lhe um anjo como companheiro e guardião.
Na vida espiritual, essa presença nos lembra que a graça de Deus é sempre maior do que as dificuldades que enfrentamos. Os anjos são enviados para nos ajudar a vencer as tentações, a manter a fé viva, a não desviar do caminho da salvação. São como “sinais do cuidado de Deus” e companheiros invisíveis que reforçam nossa esperança.
O Salmo 90(91) é uma das orações mais consoladoras das Escrituras. Foi rezado por gerações de judeus e cristãos como súplica de proteção contra perigos, doenças, inimigos. É o salmo da confiança na fidelidade de Deus:
“Porque a seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra.”
Notemos que a proteção prometida não significa ausência de provações, mas a certeza de que, em meio a elas, não estaremos sozinhos. O Senhor envia seus anjos como guardiões. O salmo não é uma “fórmula mágica”, mas um convite a viver na obediência e confiança em Deus.
Hoje, em um mundo que tantas vezes confia mais na técnica e na força humana do que em Deus, o salmo nos recorda que a verdadeira segurança vem do Senhor. Ele é nosso refúgio, e os anjos são sinais do seu cuidado pessoal.
“Quem se fizer pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. E quem acolher em meu nome uma criança como esta, acolhe a mim.”
Em seguida, o Senhor dá uma advertência solene:
“Vede: não desprezeis nenhum destes pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus veem sem cessar a face de meu Pai que está nos céus.”
Aqui está o núcleo da mensagem:
- O Reino de Deus é dos humildes e confiantes, não dos orgulhosos.
- Cada pessoa, especialmente os mais frágeis e indefesos, tem dignidade infinita diante de Deus e é acompanhada por um anjo que contempla a face do Pai.
A presença do anjo da guarda não é apenas um consolo pessoal; é também um chamado à reverência e ao respeito pelo outro, especialmente pelos mais pequenos e vulneráveis. Se cada ser humano tem um anjo que está em comunhão com Deus, não podemos desprezar ou maltratar ninguém sem ofender o próprio Deus.
Nosso tempo, marcado por tantas formas de desprezo pelos pequenos – crianças abandonadas, idosos esquecidos, migrantes, pobres, pessoas exploradas – precisa redescobrir esta verdade: o cuidado com os pequeninos é cuidado com o próprio Cristo, e os anjos de Deus são testemunhas disso.
Além disso, Jesus nos convida a cultivar a espiritualidade da criança: a confiança, a simplicidade, a capacidade de depender do Pai. Isso não é infantilidade, mas maturidade espiritual. O orgulho fecha o coração à graça; a humildade o abre à presença de Deus e de seus anjos.
a) A presença dos anjos como convite à confiança
Saber que Deus nos deu um anjo da guarda nos lembra que não estamos sozinhos. Em tempos de medo, solidão ou provação, podemos rezar e pedir sua intercessão. Isso não substitui a oração ao próprio Deus, mas é um auxílio oferecido por Ele.
b) Humildade e abertura de coração
A mensagem do Evangelho é clara: quem quer ser grande precisa ser pequeno diante de Deus. Isso nos desafia a vencer a tentação do orgulho, da autossuficiência, do poder. A humildade abre espaço para a ação da graça, que muitas vezes se manifesta de modo discreto, como a presença silenciosa dos anjos.
c) Respeito e cuidado pelos pequeninos
Se os anjos contemplam o rosto do Pai e velam por cada pessoa, então cada ser humano tem valor sagrado. Isso nos chama a reverenciar a dignidade do próximo, a defender a vida desde a concepção até a morte natural, a promover justiça e solidariedade.
d) Colaboração com a graça
Os anjos nos guardam e inspiram, mas não substituem a nossa liberdade. Devemos colaborar com a graça, ouvindo a voz de Deus, escolhendo o bem, evitando o pecado. A presença do anjo da guarda é estímulo para viver de modo digno da vocação cristã.
e) A espiritualidade do dia a dia
Seguir a “pequena via” de confiança e amor, como ensinou Santa Teresinha, é uma forma concreta de cooperar com a ação dos anjos. Eles nos ajudam a perseverar nas pequenas fidelidades que constroem a santidade.
Como Neemias foi guiado por um anjo na reconstrução de Jerusalém, também hoje precisamos reconhecer que nossa caminhada de fé e nosso serviço à Igreja contam com o auxílio invisível, mas eficaz, dos anjos. Eles inspiram, protegem e intercedem para que sejamos fiéis.
As leituras nos ensinam:
- O anjo enviado por Deus é sinal de que não caminhamos sozinhos (Êxodo).
- Podemos confiar na sua proteção (Salmo 90).
- Devemos cultivar humildade e respeito pelos pequenos, pois seus anjos contemplam a face do Pai (Mateus).
Confiemos, portanto, nossa vida, nossa família, nossa comunidade à proteção dos Santos Anjos da Guarda, e aprendamos com eles a viver na adoração, na obediência e na fidelidade.
“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa, me ilumina. Amém.”



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