Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
A liturgia de hoje nos convida a contemplar, com um coração agradecido e cheio de esperança, a presença materna de Maria Santíssima na vida da Igreja. Celebramos a memória de Nossa Senhora do Rosário, um dos títulos mais queridos da Virgem, ligado à oração perseverante e à vitória da fé sobre as forças do mal.
A Palavra de Deus nos apresenta duas cenas marcantes: em Atos dos Apóstolos, vemos a Igreja nascente reunida em oração com Maria no cenáculo; no Evangelho, contemplamos o anúncio do anjo Gabriel a Maria, convidando-a a cooperar livremente no mistério da Encarnação do Verbo.
Essas duas passagens bíblicas, unidas à memória de Nossa Senhora do Rosário, revelam uma mesma verdade: Maria está sempre presente nos momentos mais decisivos da história da salvação, guiando-nos na oração, ajudando-nos a dizer “sim” a Deus e a perseverar na fé mesmo nos tempos de dificuldade.
A primeira leitura nos transporta ao período entre a Ascensão do Senhor e Pentecostes. Os apóstolos, ainda inseguros, voltam a Jerusalém e se reúnem no cenáculo. Ali, perseveram unânimes na oração, juntamente com algumas mulheres e Maria, a mãe de Jesus (At 1,14).
Esta presença de Maria não é um detalhe secundário, mas um elemento essencial do mistério da Igreja. O mesmo Espírito Santo que a cobriu com sua sombra em Nazaré para que o Verbo se fizesse carne, é agora esperado com ela e com a comunidade cristã para gerar a Igreja missionária.
Vemos, assim, que Maria não apenas deu à luz o Salvador, mas continua, como Mãe da Igreja, a gerar espiritualmente os discípulos de Cristo. É no seu coração orante e intercessor que a comunidade aprende a esperar e a confiar.
Em nossos dias, essa imagem do cenáculo é profundamente atual. Em um mundo marcado por divisões, pressa e superficialidade, somos chamados a redescobrir o valor da oração perseverante, em família, em comunidade, em silêncio, unidos como irmãos. Nossa Senhora do Rosário é modelo dessa oração que não cansa, que mantém viva a chama da fé.
No Evangelho, o anjo Gabriel é enviado a uma jovem de Nazaré, para anunciar que ela foi escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus. Essa cena é uma das mais sublimes das Escrituras, pois revela que Deus, em sua infinita misericórdia, quis associar uma criatura humana ao mistério da salvação.
O diálogo entre Maria e o anjo nos ensina duas atitudes fundamentais para a vida cristã: escuta atenta da Palavra e resposta confiante à vontade de Deus.
Maria, chamada “cheia de graça”, mostra-nos que a verdadeira grandeza não vem de títulos humanos, mas da docilidade à ação do Espírito Santo. Ao dizer: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), ela abre as portas para a Encarnação do Verbo.
Esse “sim” não foi apenas um ato isolado, mas uma entrega constante, que acompanhou toda a sua vida: da manjedoura ao Calvário, da alegria de Belém à dor da Cruz. Ela nos ensina que a fé verdadeira é total, perseverante, fiel até as últimas consequências.
Celebrar a memória de Nossa Senhora do Rosário é recordar a importância de manter viva na Igreja a oração simples e profunda que acompanha o povo de Deus há séculos.
O Rosário nasceu como uma oração contemplativa: ao repetir as Ave-Marias, mergulhamos nos mistérios da vida de Cristo, contemplando-os com os olhos e o coração de Maria. São João Paulo II, na carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, disse que o Rosário é “compêndio do Evangelho”, pois conduz o fiel a meditar os momentos essenciais da vida do Senhor.
Historicamente, a devoção ao Rosário foi fortalecida após a batalha de Lepanto (1571), quando a cristandade, ameaçada por forças hostis, recorreu à oração do Rosário e experimentou uma vitória interpretada como fruto da intercessão da Virgem Maria. Desde então, a Igreja celebra a festa de Nossa Senhora do Rosário como sinal de confiança na sua proteção materna.
Hoje, num tempo marcado por tantas crises espirituais, culturais e sociais, o Rosário continua sendo uma arma espiritual: não contra pessoas, mas contra o pecado, a indiferença e a desesperança. A oração mariana fortalece a fé, sustenta as famílias, dá serenidade na provação e ajuda a Igreja a manter-se unida no essencial: Cristo, nosso Senhor.
A Virgem do Rosário nos ensina a rezar com perseverança, mesmo quando os desafios parecem insuperáveis. No cenáculo, ela ajudou os apóstolos a esperar pela promessa do Pai; hoje, ela nos ajuda a perseverar no caminho de Cristo em meio às dificuldades do mundo moderno.
Ao rezarmos o Rosário, unimos nossa voz à de Maria, que intercede incessantemente por nós. Através dessa oração, nossa vida vai se configurando aos mistérios de Cristo: da Anunciação aprendemos a dizer “sim” à vontade de Deus; do nascimento em Belém aprendemos a acolher a simplicidade e a humildade; da Paixão aprendemos a fidelidade no sofrimento; da Ressurreição e da Ascensão aprendemos a esperança.
Assim, a devoção mariana não nos afasta de Cristo, mas nos leva a Ele. Como disse São Luís Maria Grignion de Montfort, “é por Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Maria que Ele quer reinar no mundo”.
A Palavra de Deus e a memória de Nossa Senhora do Rosário convidam-nos a renovar a vida de oração pessoal e comunitária. Vivemos numa sociedade em que muitas vezes se busca soluções rápidas, mas se esquece da dimensão espiritual. A oração do Rosário é um antídoto contra a superficialidade e um convite à contemplação.
Concretamente, podemos aplicar essa mensagem:
- Na família: O Rosário rezado em casa fortalece a comunhão familiar e ajuda os pais a transmitirem a fé aos filhos.
- Na paróquia: Comunidades que rezam juntas tornam-se mais acolhedoras, mais abertas à missão e mais unidas na caridade.
- Na vida pessoal: A meditação dos mistérios do Rosário nos ensina a ver nossa própria história à luz da história da salvação.
O testemunho de Maria e a oração do Rosário também nos impulsionam à ação: a caridade concreta, o cuidado pelos necessitados, a defesa da vida e da dignidade humana. Rezar e agir caminham juntos; não podemos separar a contemplação da prática do amor.
Queridos irmãos e irmãs,
A liturgia de hoje nos recorda que, desde a Anunciação até o cenáculo, Maria sempre esteve presente nos momentos mais decisivos da história da salvação. Como Mãe de Deus e Mãe da Igreja, ela continua a nos acompanhar no caminho da fé, ensinando-nos a ouvir a Palavra, a meditar os mistérios de Cristo e a permanecer perseverantes na oração.
Ao celebrarmos Nossa Senhora do Rosário, somos convidados a empunhar essa coroa de oração não como um objeto, mas como um instrumento de fé e de paz. Diante dos desafios atuais – crises espirituais, divisões sociais, violências e perda de valores –, o Rosário é fonte de esperança e de unidade.
Que Maria Santíssima, Senhora do Rosário, nos ajude a dizer com ela: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Que a sua intercessão nos mantenha fiéis a Cristo, perseverantes na oração, comprometidos com a justiça e alegres na esperança.
Oração final:
“Ó Virgem Maria, Senhora do Rosário, acompanha-nos no caminho da vida. Ensina-nos a meditar os mistérios de Cristo, a perseverar na oração e a testemunhar com obras a nossa fé. Que, unidos a ti e confiantes na tua intercessão, possamos servir ao teu Filho com um coração humilde e generoso. Amém.”



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