“Ide aos meus irmãos.” Que esta palavra não se apague em vossos corações, mas se torne vida e missão.

 

DOM LUCAS HENRIQUE LORSCHEIDER EP 

POR MERCÊ DE DEUS E DA SÉ APOSTÓLICA
BISPO TITULAR DE DAGNO E AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE DE PARAÍBA DO SUL

À Associação de Direito Diocesano Arautos do Evangelho e a toda a comunidade de irmãos e filhos espirituais no Senhor, saudações e bençãos.



Ide aos meus irmãos e dizei-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).
Estas palavras, pronunciadas pelo Senhor Ressuscitado a Maria Madalena, ressoam com força renovada em nossos corações e se fazem hoje o ponto de partida desta carta, que não pretende ser apenas uma leitura piedosa ou um texto de reflexão momentânea, mas uma exortação viva, nascida da experiência concreta de fé, de missão e de vida comunitária.

Peço, desde o início, que cada um leia estas linhas com o coração aberto, em atitude orante, deixando-se instruir e consolar pelo Espírito Santo. Não se trata de uma leitura rápida, como quem deseja apenas cumprir uma formalidade espiritual; trata-se de escutar com docilidade aquilo que o Senhor quer comunicar a cada alma.

A expressão “Ide aos meus irmãos” nasce do primeiro encontro do mundo com o Cristo Vitorioso. É o eco do túmulo vazio, o cântico novo da manhã da Ressurreição.
Maria Madalena, primeira testemunha do Ressuscitado, é enviada a anunciar o que viu e ouviu. Assim, o primeiro mandamento do Ressuscitado é “Ide”, e o primeiro gesto do coração que O encontrou é “testemunhar”.

A nossa missão brota do mesmo impulso: a alegria que se transforma em anúncio, o encontro que se torna testemunho. Não há verdadeira experiência de Cristo que não desemboque em missão. “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16).

Quantas vezes, ao longo dos anos, vimos este impulso arder nos corações dos jovens, dos sacerdotes, dos cooperadores, dos consagrados e das famílias! Essa chama que move o nosso apostolado, nossa comunidade, as formações catequéticas, é a mesma que moveu Maria Madalena na manhã do Domingo da Ressurreição.

Ela viu o Senhor, e por isso correu.
Ela escutou a voz do Mestre, e por isso anunciou.
Ela O reconheceu, e por isso amou com ardor renovado.

Antes de ser um dever, a missão é um agradecimento.
Quem é tocado pela graça não pode calar o coração.
Quem recebeu de Deus tantos benefícios sente a necessidade de transformar a própria vida num cântico de gratidão.

Recordemos o salmista: “Que poderei retribuir ao Senhor por tudo aquilo que Ele fez em meu favor?” (Sl 116,12).
A resposta está no próprio salmo: “Elevo o cálice da minha salvação invocando o nome do Senhor” (v.13).

Erguer o cálice significa oferecer-se com Cristo, fazer da própria vida uma oblação, um sacrifício espiritual agradável a Deus. Eis o verdadeiro espírito da vocação: viver em ação de graças, com fidelidade, generosidade e perseverança.

Como ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o sacrifício de ação de graças ao Pai, um memorial de Cristo e de seu Corpo, um sacramento da caridade, sinal de unidade e vínculo da caridade” (n.1328-1329).
Toda nossa missão nasce e retorna ao altar. Sem Eucaristia, não há mensageiros (Arautos); sem sacrifício, não há evangelização.

Servir ao Senhor é a maior dignidade que um homem pode alcançar.
Muitos veem o serviço como peso; para nós, é graça, alegria e eleição.
Jesus mesmo disse: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15).

O serviço cristão é uma amizade ativa com Cristo, é participar de seus desígnios, é ser colaborador da verdade.
Santo Agostinho, comentando este mistério, afirmava: “Servir a Deus é reinar” (Sermo 340,1).

Por isso, cada gesto cotidiano, cada oração, cada sacrifício, cada obediência oferecida no silêncio tem valor redentor.
Servir com alegria é fazer resplandecer no mundo o rosto do Cristo Servo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,28).

Caríssimos, o Senhor repete ainda hoje: “A messe é grande, mas os operários são poucos” (Lc 10,2).
Ele não pronuncia estas palavras em tom de lamento, mas de apelo. O campo está pronto, a seara amadurecida, mas requer trabalhadores generosos e fiéis.

Ser um membro da nossa comunidade, como leigo ou sacerdote é ser operário na vinha do Senhor.
Não é título honorífico, mas chamado exigente.
Exige entrega total, pureza de intenção, fidelidade ao carisma, zelo ardente e vida de oração.

O Documento de Aparecida nos recorda:

“Não há discipulado sem missão; e não há missão sem discipulado. Ser discípulo é estar constantemente em comunhão com Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, deixar-se enviar por Ele” (DAp 278).

E o Papa Bento XVI, cuja palavra tanto ressoa em nossa espiritualidade, dizia:

“Quem anuncia o Evangelho não deve ter medo de renunciar a si mesmo, porque somente quem perde a própria vida por Cristo a encontrará plenamente” (Homilia de envio, JMJ Colônia, 2005).

O compromisso com a messe do Senhor é, portanto, um chamado à maturidade espiritual.
Não basta o entusiasmo inicial; é preciso perseverança.
Não basta o brilho exterior; é preciso interioridade.
Não basta o zelo visível; é preciso amor enraizado na cruz.

Ide aos meus irmãos” — disse o Senhor a Maria Madalena —, e nela enviou a todos nós.
Mas quem é capaz de ir, se antes não se deixa converter?

A missão começa no coração.
Cada dia, o Espírito Santo renova o convite: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15).
E o apóstolo Paulo acrescenta: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Rm 12,2).

Viver em constante conversão é o segredo da fecundidade apostólica.
Quem se renova interiormente torna-se canal da graça para os outros.
Quem se fecha na rotina espiritual corre o risco de trabalhar na vinha sem amor, e de anunciar o Evangelho com os lábios, mas não com a vida.

A conversão nos faz dóceis à voz de Deus e sensíveis às necessidades do próximo.
O verdadeiro discipulo é aquele que fala de Deus com a alma perfumada de oração, que prega o Evangelho com a força da coerência e que serve à Igreja com humildade filial.

Jesus não enviou os discípulos sozinhos.
A missão é sempre comunitária, e é na comunhão que o testemunho ganha força.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).

A Comunidade Católica de Minecraft é uma família espiritual, unida por laços de caridade e disciplina.
A obediência fraterna, a vida comunitária, o amor à liturgia e a busca da beleza nas coisas de Deus são expressões visíveis dessa comunhão.

Como ensina São João Paulo II na Exortação Vita Consecrata:

“A comunhão fraterna, vivida com intensidade, torna-se profecia num mundo marcado por divisões e conflitos” (VC 46).

Que a nossa comunhão seja, pois, testemunho vivo do Reino!
Quando um irmão sofre, todos sofrem; quando um irmão se alegra, todos se alegram.
Não há missão fecunda sem unidade interior e fraterna.

Nenhuma missão é autêntica sem Maria.
Ela é o caminho mais rápido e seguro para chegar a Jesus.

Foi Ela quem, na manhã da Ressurreição, acolheu o anúncio pascal e o guardou no coração.
Ela viveu a plenitude da palavra “Ide aos meus irmãos”, pois toda sua existência foi envio: de Nazaré a Belém, de Belém ao Calvário, do Calvário ao Cenáculo.

Como nos ensina São Luís Maria Grignion de Montfort:

“Deus Pai reuniu todas as águas e chamou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria” (Tratado da Verdadeira Devoção, n.23).

Confiemos, pois, nossa missão a Ela, Mãe e Mestra, Estrela da Evangelização, Rainha dos missionários.
Que em cada membro que se dedica a esse apostolado, em cada canto, em cada missão, brilhe a presença materna da Santíssima Virgem, que “conservava todas essas coisas, meditando-as no coração” (Lc 2,19).

Todo envio implica cruz! Maria Madalena foi anunciadora da Ressurreição, mas antes chorou aos pés da cruz, por isso lembremos que o verdadeiro discípulo não foge do sofrimento, mas transforma-o em ocasião de amor.

Ser missionário nesse mundo virtual é carregar a cruz com Cristo, mas com o sorriso dos ressuscitados. Lembremos sem que que não há tristeza que resista à certeza da vitória final do Cordeiro. Por isso, diante das dificuldades, das incompreensões ou das lutas espirituais, mantenhamos firme o olhar em Cristo. Ele é o Alfa e o Ômega de nossa vocação.

Caríssimos irmãos, volto ao pedido inicial: leiam esta carta com o coração aberto.
Não a leiam como se fosse um comunicado ou um texto a ser arquivado.
Leiam-na em espírito de oração, talvez diante do Santíssimo Sacramento, pedindo luzes ao Espírito Santo.

A palavra de Deus é viva, e cada frase pode tocar a alma de modo diverso. Talvez o Senhor queira, por meio destas linhas, acender novamente o zelo apostólico, fortalecer a fidelidade, inspirar uma nova entrega ou simplesmente recordar o amor primeiro.

Ide aos meus irmãos!” — é o mesmo convite que hoje ressoa para nós.
Ide às famílias, às escolas, às praças, aos corações.
Ide com humildade, mas com ardor; com mansidão, com firmeza; com prudência, com coragem. O mundo precisa ver o Evangelho vivo em vós, não em palavras, mas em atitudes, não em discursos, mas em santidade.

E quando, após o labor do dia, o cansaço bater, lembrai-vos de que o Senhor vos chama amigos e vos sustenta com sua graça.
Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós” (Jo 15,4).
Nisto está o segredo da fecundidade: permanecer em Cristo, viver em comunhão com Ele, e fazer tudo “para maior glória de Deus e salvação das almas”.

Peço à Santíssima Virgem que abençoe cada Arauto, cada cooperador, cada jovem e cada família que, com fidelidade e entusiasmo, participa desta grande missão evangelizadora.
Que o Sagrado Coração de Jesus vos conceda perseverança, paz e alegria.

E de todo o coração, abençoo-vos em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

Com gratidão e esperança,

 LUCAS HENRIQUE LORSCHEIDER
Bispo titular de Dagno
Auxiliar da Arquidiocese de Paraíba do Sul
Chanceler pro Tempore dos Arautos

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